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O PROFETA ELIAHU Hanavi

Eliahu Hanavi

A HISTÓRIA DO PROFETA ELIAHU Hanavi

Um rei, uma rainha e um profeta

No país de Israel vivia um rei chamado Achab. Achab desagradava o Eterno mais que todos os outros reis antes dele. E sua mulher era ainda pior que ele. Era uma princesa não judia de um país vizinho, onde se servia a idolatria de Baal e não a D’us. Seu nome era Jezabel.

Ela conseguia sempre obter tudo que desejava.

Agora ela queria que todo o povo de Israel adorasse Baal, como ela.

“Constrói um belo templo em honra ao meu deus Baal” disse ela a Achab.

E Achab, para agradar à rainha, mandou construir o templo.

“Entra comigo no templo”, disse Jezabel.

E o rei Achab entrou, e se ajoelhou diante de Baal.

“Um templo de Baal deve ter sacerdotes”, disse também Jezabel.

O rei Achab permitiu-lhe mandar buscar da sua antiga pátria um milhar de sacerdotes de Baal.

Quatrocentos e cinqüenta deles comiam na mesa da rainha. Muito pronto já havia altares de Baal no alto de cada uma das colinas do país. Os agricultores judeus do vale escutavam bater com os pés, gritar e rir de maneira selvagem. Subiram em direção aos altares para ver o que estava acontecendo. Muitos voltavam para levar sacrifícios a Baal, dizendo “podemos servir D’us e Baal ao mesmo tempo”.

A rainha Jezabel estava muito contente.

“Logo logo será Baal e não o Eterno D’us que será o deus de Israel”, dizia.

Mas Jezabel havia esquecido dos profetas. Os profetas, vocês lembram, eram homens que D’us havia escolhido como mensageiros. Percorriam o país, de uma ponta à outra, ensinando ao povo como viver de acordo com a vontade de D’us. Os profetas sabiam que não se podia servir simultaneamente D’us e Baal. D’us pede que os homens se amem entre eles, e que façam o que é justo e bom, enquanto os sacerdotes de Baal ensinavam a imoralidade e a crueldade.

Os profetas comprometeram o povo de Israel a não subir aos altares de Baal.

Furiosa, Jezabel mandou chamar seus soldados e ordenou-lhes: “Procurem em toda parte os profetas de D’us e matem-nos todos. – Que nenhum deles escape.”

Centenas de profetas foram então exterminados.

Alguns fugiram para fora do país, outros se esconderam em grutas. Mas havia um que se recusava a calar. Este profeta se chamava Eliahu.

Não haverá chuva

O rei Achab encontrou o profeta Eliahu pela primeira vez pouco depois da massacre dos profetas do Eterno.

Ele estava visitando o capitão do seu exército, quando de repente, um estranho surgiu diante dele. O homem vestia a roupa dos profetas, um manto grosseiro de pele de carneiro. Seus cabelos eram longos, seu olhar severo.

“O Eterno, D’us de Israel, mandou-me até você”, disse o estrangeiro. “Tão verdade quanto o Eterno está vivo, não haverá neste país nem chuva nem orvalho, até que eu dê a ordem.”

Antes do rei poder pronunciar uma só palavra, o homem havia desaparecido. Perturbado, o rei perguntou aos servidores quem era aquele homem.

“É Eliahu”, responderam. “É um profeta do Eterno que mora em Galaad, do outro lado do Jordão.”

Achab tentou esquecer o que Eliahu havia previsto. Mas chegou a época das primeiras chuvas e nenhuma gota de água caiu. A época das segundas chuvas chegou, e o céu continuava claro, sem uma nuvem sequer. A terra estava secando e a grama murchava.

Achab mandou mensageiros à procura de Eliahu. Percorreram o país em todos os sentidos, interrogando todo mundo. Perto do Jordão ouviram falar do profeta.

Alguém disse: “Eliahu se esconde na gruta, nas montanhas de Galaad”.

Outro acrescentou: “O Eterno ordenou aos passarinhos que o alimentem. Pela manhã e à noite, corvos lhe trazem pão e carne”.

Os enviados do rei atravessaram o Jordão. Eles revistaram as montanhas selvagens e devastadas de Galaad. Revistaram também todas as regiões dos arredores. Mas não puderam descobrir Eliahu.

O grande teste

Passaram três anos e ainda não havia chovido. O rei Achab mandou chamar Obadia, seu mordomo, e lhe disse:

“Vem, percorramos o país, visitemos todas as fontes e todos os riachos. Pode ser que encontremos um pouco de capim para que os cavalos, as mulas e o que sobrou do gado não morram.”

Foram para a estrada, cada um numa direção diferente. De repente Eliahu apareceu diante de Obadia.

Obadia havia sempre servido o Eterno. Quando Jezabel quis exterminar os profetas, ele tinha escondido uma centena nas grutas e tinha levado para eles pão e água. Prosternou-se diante do profeta, até o chão.

-         “É você, meu senhor Eliahu?” perguntou.

-         - “Sou eu,” respondeu Eliahu. “Vai e diz ao teu mestre: ‘Eliahu esta aqui’.”

Mas Obadia temeu dar ao rei esta notícia. “Quando eu tiver partido, você vai desaparecer, como já fez tantas outras vezes. Se Achab vier e não te encontrar, ele certamente me matará.” –

Eliahu respondeu: “Tão verdade quanto o Eterno está vivo, eu me apresentarei hoje mesmo diante do rei.”

Obadia correu ao encontro de Achab para contar-lhe tudo isso. Voltaram juntos e encontraram Eliahu esperando-os.

“É você que está perturbando Israel?” disse o rei Achab.

“- Não fui eu que criei os problemas para Israel, respondeu Eliahu, e sim você, ao abandonar os mandamentos do Eterno e ao seguir o culto de Baal.”

Depois Eliahu ordenou ao rei reunir no monte Carmel os chefes dos judeus e os quatrocentos e cinqüenta sacerdotes de Baal. O rei Achab não ousou negar esse pedido. Portanto reuniu a todos ali. Os judeus estavam de um lado e os sacerdotes de Baal do outro. Entre eles estava Eliahu.

Voltando-se para os homens do seu povo, ele gritou:

“Até quando vocês vão ficar pulando de uma opinião à outra? Se o Eterno é D’us, sigam-No. – Se é Baal, sigam Baal.”

O povo não respondeu.

Eliahu continuou então: “Eu sou o único que ficou de todos os profetas do Eterno, e os sacerdotes de Baal são quatrocentos e cinqüenta. Vamos fazer um teste.”

Ele se voltou para os sacerdotes de Baal.

“Preparem um jovem touro para o sacrifício, disse-lhes; coloquem-no sobre a madeira do vosso altar mas não ateem fogo. Eu farei a mesma coisa. Depois, invocai o nome de vossos deuses e eu, invocarei o nome do Eterno. O deus que enviar o fogo do céu para consumir a oferenda, este é o D’us verdadeiro.”

O povo todo gritou: “É isso mesmo. Está bem falado.”

Os sacerdotes de Baal colocaram, então, o seu sacrifício no altar, sem atear fogo, depois começaram a invocar o nome de Baal.

“O! Baal, responde-nos! O! Baal, responde-nos”, gritaram, dançando ao redor do altar. Da manhã até o meio dia, gritaram assim. Mas não houve resposta.

Ao meio dia, Eliahu debochou deles: “Gritem mais forte, disse, o deus de vocês está certamente ocupado, ou está caçando, ou viajando. Ou será que ele está dormindo e precisa acordá-lo?”

Os sacerdotes gritaram ainda mais forte e, de acordo com seu costume, se flagelaram o corpo com facas e espadas até o sangue fluir. Pulavam por cima do altar gritando sempre: “O! Baal, responde-nos!”

Mas as horas passavam, a noite estava próxima, e eles ainda não haviam obtido nenhuma resposta.

Eliahu disse então ao povo: “Aproximem-se de mim”. E o povo se aproximou. Ele tomou doze pedras, uma para cada tribo de Israel, e consertou o altar de D’us que havia sido destruído. Cavou um fosso ao redor dele. Preparou o touro e o colocou sobre a madeira amontoada sobre o altar.

“Encham quatro jarras com água, disse ao povo e derramem-na sobre a oferenda e sobre o altar.”

Quando terminaram, ele lhes disse: “Façam isso outra vez.”

E o fizeram uma segunda vez, depois uma terceira, até que a água escorreu do altar e encheu o próprio fosso.

Eliahu começou então a rezar: “O! Eterno, D’us de Avraham, de Itschac e de Israel, que o povo saiba hoje que Tu es o Único D’us. Responde-me, O! D’us, responde-me para que os corações do povo voltem para Ti.”

Apenas terminou esta oração, desceu um fogo do céu sobre o altar, consumindo a oferenda, a madeira, as pedras e a poeira. E absorveu também toda a água do fosso.

O povo viu tudo isso e se prosternou até o chão exclamando:

“O Eterno é D’us! É o Eterno que é D’us!” Eliahu subiu então no alto da montanha, acompanhado pelo seu jovem ajudante e disse a este:

“Vai olhar do lado do mar.”

Enquanto o rapaz olhava, Eliahu colocou a cabeça entre os joelhos e rezou.

O servidor voltou e lhe disse: “Não vejo nada”.

-         “Olha mais”, disse Eliahu.

Sete vezes Eliahu mandou o rapaz de volta. Na sétima vez, o menino voltou e lhe disse:

“Uma nuvem, pequena como a palma da mão, se eleva sobre o mar.”

Eliahu lhe ordenou então: “Vai dizer ao rei Achab: ‘sobe na tua carruagem e desce o mais rápido possível para que a chuva não te detenha’.”

O rapaz saiu correndo, seguido por seu mestre.

A pequena nuvem tinha crescido e o céu estava todo coberto.

Achab subiu na carruagem e partiu em direção à planície. Eliahu correu diante da carruagem do rei por todo o caminho, até as portas da cidade, e a chuva já caía a cântaros.

Quando Jezabel soube o que tinha acontecido com seus sacerdotes, empalideceu de ira. Mas levantou-se e mandou essa mensagem a Eliahu: “Tão certo como você é Eliahu e que eu sou Jezabel, amanhã, a esta hora, você será um homem morto.”

Eliahu fugiu para salvar sua vida.

Uma voz pequenina

Eliahu fugiu para o Sul, no país de Iehudá. No deserto onde se encontrava, sentou sob uma árvore para descansar um pouco.

“O! Eterno, suplicou, basta já. Deixa eu morrer, por favor!”

Enfraquecido pela fome e pela sede, por que não pudera carregar nenhum alimento, deitou sob a árvore e adormeceu.

De repente sentiu que o tocavam e ouviu uma voz dizendo-lhe: “Levanta e come.”

Abriu os olhos e viu, perto da sua cabeça, um bolo cozido sobre pedras quentes, e uma jarra de água. Levantou-se e comeu e bebeu. Com a força dessa refeição, Eliahu andou durante quarenta dias e quarenta noites pelo deserto, até o monte Horev. É a montanha em que Moshé outrora ouviu a voz do Eterno. Ali, entrou nunca caverna e aguardou, esperando para saber se D’us também gostaria de falar com ele.

De repente, levantou-se um vento violento que rachou as montanhas e quebrou as rochas. Mas o Eterno não estava neste vento.

Após o vento, houve um terremoto, mas o Eterno não esta neste tremor de terra.

Depois do terremoto, um fogo apareceu, mas o Eterno não estava neste fogo.

Mas do fogo veio o murmúrio de uma voz, ainda pequena. Assim que Eliahu a ouviu, cobriu-se o rosto com o manto, e saiu, ficando na porta da caverna.

“O que você faz aqui, Eliahu?” perguntou a voz benevolente.

Ele respondeu: “O povo de Israel se desviou de Ti, O Eterno. Demoliu Teus altares e matou Teus profetas. Sou o único que sobrou e eles estão tentando me tirar a vida.”

“Você não está só, Eliahu”, retornou a voz. “Existem ainda sete mil homens em Israel que não dobraram o joelho diante de Baal. Vai, retorna de onde você veio.”

E D’us explicou a Eliahu o que devia fazer.

Eliahu levantou-se e uma vez mais, tomou a estrada para Israel.

A videira de Nabot

O rei Achab encontrava-se nos magníficos jardins do seu palácio, entretendo-se com um homem de Israel chamado Nabot. Nabot possuía uma videira, vizinha ao palácio. Ele a cultivava com zelo e cuidado, como seu pai e seu avó o fizeram antes dele. Eeis porém que o rei Achab, que já possuía inúmeras videiras, teve vontade de possuir exatamente o jardim de Nabot. Estava bem próximo do seu palácio e ele queria fazer dele um pomar.

O rei disse então a Nabot: “Me da a tua videira. Eu a pagarei bem ou te darei em troca uma melhor.”

Nesta época não se considerava bom vender uma terra proveniente de uma herança familiar. Um pai guardava suas terras e suas videiras para que seus filhos e netos aproveitassem delas depois dele.

É por isso que Nabot respondeu ao rei: “Que o Eterno me guarde de te ceder a herança dos meus pais.”

Achab voltou para o palácio decepcionado e amuado; deitou-se na cama. Seus servidores lhe trouxeram comida mas ele virou a cabeça e recusou qualquer alimento.

Então sua mulher, Jezabel, veio vê-lo e lhe disse:

“Porque você se perturbou a ponto de recusar a comida?”

“Foi por causa de Nabot”, respondeu Achab. E contou-lhe o ocorrido.

“Acaso não és o rei de Israel?”, vociferou Jezabel com desprezo. “Levanta, come e que teu coração se regozije. Eu mesma te darei a videira de Nabot!”

Mas não era tão fácil assim como Jezabel pensou. Nos outros países, o rei podia fazer o que bem quisesse mas em Israel o rei, como todos os seus súditos, devia obedecer à lei. Jezabel esperou que todo o povo estivesse reunido num dia de jejum. Encontrou dois sem-vergonha que aceitaram se apresentar diante dos juizes testemunhando e jurando: “Nós ouvimos Nabot maldizer o Eterno e o rei.”

Era uma mentira mas ninguém o sabia.

“Nabot deve morrer”, decidiram os juizes. “Dois homens juraram que ele proferiu maldições contra D’us e contra o rei.”

E Nabot, inocente, foi assassinado.

Jezabel correu para Achab para lhe anunciar:

“A videira que Nabot recusou ceder a você é sua agora porque Nabot morreu. Vai tomar posse dela.”

Achab levantou-se e precipitou-se em direção ao jardim.

“Agora posso arrancar todos esses pés de videira e plantar meu jardim,” disse.

Mas ouviu subitamente uma voz atrás dele:

“Você assassinou Nabot, e agora você vai também se apossar da sua videira?”

Achab se deu volta bruscamente, reconhecendo esta voz.

“Quer dizer que você me reencontrou, você, meu inimigo!” disse Achab.

Eliahu respondeu: “D’us me mandou para dizer: “Você fez o mal durante toda a vida. Mas esse mal vai recair sobre você agora, e você vai sofrer como você fez sofrer.”

E o profeta anunciou ao rei todas as desgraças que iam lhe acontecer em breve. Achab entendeu finalmente o quanto sua maldade era grande. Ele correu para fora da videira e se cobriu o corpo com um saco. Jejuou e viveu calmamente para que D’us visse o quanto ele se arrependia de todo o mal que havia feito.

Mas Jezabel, ela não mudou nada.

A carruagem de fogo

Eliahu viveu o suficiente para ver os profetas do Eterno retornarem a Israel. Quando era um homem bem velho, havia comunidades inteiras nas cidades de Bet El e Jerico. Os jovens que eram seus discípulos se faziam chamar de “Filhos de profetas.”

Eliahu tinha, ele também, um jovem discípulo, que ele considerava como seu filho. Seu nome era Elisha. As pessoas gostavam de relatar o primeiro encontro entre Elisha e o profeta.

O pai de Elisha era agricultor e possuía vastos campos perto do Jordão. Precisava de doze homens e doze pares de bois para arar as suas terras! Um dia que Elisha estava arando com os servidores do seu pai, Eliahu apareceu de repente. Sem dizer uma só palavra, atravessou o campo, jogou seu manto sobre as costas de Elisha e foi embora. Elisha sabia que este gesto era um sinal: D’us o havia escolhido para que ele também fosse profeta. Ele deixou seus bois e correu para Eliahu.

“Me deixa beijar a minha mãe e o meu pai”, falou. “Logo depois te seguirei.”

“Vai”, disse Eliahu.

Elisha se despediu da família e dos amigos. Depois seguiu Eliahu para servi-lo e receber seus ensinamentos. A partir deste momento Elisha não abandonou mais Eliahu.

Eliahu já estava muito, muito velho. Um dia ele disse a Elisha: “Meu filho, fica aqui, por favor, porque o Eterno me manda para Bet El.”

“Tão verdade quanto o Eterno está vivo, e que vives, tu também, eu não te deixarei”, respondeu Elisha.

E foram juntos para Bet El. Os Filhos dos Profetas se aproximaram de Elisha e lhe disseram: “Sabes por acaso que Eterno vai te tirar o teu mestre hoje?”

“Sei sim”, respondeu Elisha, “mas não falem disso.”

Eliahu lhe disse: “Por favor, fica aqui, Elisha, porque o Eterno me ordena ir a Jerico.”

Mas Elisha respondeu ainda: “Tão verdade quanto o Eterno está vivo, e que vives, tu também, eu não te deixarei”.

E foram juntos para Jerico. Ali também os Filhos dos Profetas disseram a Elisha: “Sabes por acaso que Eterno vai te tirar o teu mestre hoje?”

“Sei sim”, respondeu Elisha, “mas não falem disso.”

Uma terceira vez Eliahu lhe disse: “Elisha, fica aqui, por favor, porque o Eterno me ordena ir até o Jordão.”

Mas Elisha recusou outra vez abandonar seu mestre e atravessaram juntos o Jordão.

Eliahu disse então ao seu discípulo: “Pede o que quiseres que eu faça por ti antes que eu seja tirado para longe de ti.”

“Meu Mestre”, respondeu Elisha, “quero somente me parecer a ti. Portanto me da uma dupla parte do teu espírito.”

Eliahu lhe disse: “Tu me pedes uma coisa difícil. Entretanto, se tu me veres quando eu tiver sido levado para longe de ti, este será o sinal que teu desejo será atendido.”

Levantou-se uma tempestade enquanto eles partiam. O vento uivava e os relâmpagos se viam. De repente uma carruagem de fogo e cavalos de fogo desceram entre eles. Sob os olhos de Elisha, Eliahu subiu ao céu num turbilhão.

“Meu pai, meu pai!” exclamou Elisha. Mas ele nunca mais viu seu mestre.

O manto de Eliahu tinha escorregado das suas costas e tinha caído no chão. Elisha o recolheu e atravessou o Jordão de volta.

Quando os Profetas que permaneciam em Jerico o viram chegar, disseram: “O espírito de Eliahu está sobre Elisha.”

Diz-se que Eliahu não morreu.

Ele ainda volta para a terra, para ajudar as pessoas que necessitam.

Ele pode bater na porta um dia qualquer, disfarçado de pobre estrangeiro.

Dedicamos a ele alguns cantos no final de Shabat.

E em Pessach, o convidamos e lhe abrimos a porta.

Daniel

- Daniel

- O domador de leão

- Sobre Daniel no Zohar

Daniel foi levado para o palácio do rei.

Nabucodonosor, rei da Babilônia e vencedor do reino de Judá, estava sentado em seu trono, na sua cidade de Babilônia, e dava ordens ao chefe dos oficiais de sua casa.

“Eu tenho a intenção de instruir na nossa escola real alguns judeus cativos”, dizia o rei. “Vá escolhê-los para mim. Eles devem pertencer à família real ou nobre, devem ser sãos, bonitos de corpo e de rosto,  e destacáveis por suas boas maneiras e inteligência. Quando eles tiverem passado três anos no Palácio, você me apresentará a eles.”

O oficial foi rapidamente visitar a colônia judaica e ele pediu que todos os jovens que estivessem lá viessem até ele. Ele conversava com um, depois com outro, depois com um terceiro e um quarto, mas ele sempre voltava a falar com o primeiro.

- “Qual é o seu nome?” Perguntou o oficial.

-  “Daniel”, respondeu o garoto.

- “De onde você vem?”

- “De Juda”.

- “Qual é o nome do seu pai?”

Daniel deu o nome de um dos príncipes de Juda.

- “Hum...” disse o oficial da Babilônia contando nos dedos as qualidades do garoto: “Boa família, bem educado, inteligente, são, habilidoso, e bonito. Ele tem tudo! O rei ficará satisfeito.”

Daniel foi então o primeiro a ser escolhido. Dentre os outros, havia três jovens de Juda, amigos de Daniel (Michael, Hanania e Azaria).

Os meninos se olhavam estupefatos enquanto seguiam o oficial do rei. Eles passavam por um corredor, entre duas lindas paredes brilhantes. Essas paredes eram decoradas por leões que pareciam se movimentar; o portal, no final do corredor, era enfeitado com touros alados. Atrás desse portal estava o palácio real; os jovens nunca tinham visto nada tão esplêndido. Eles ficaram cegos com o brilho das paredes douradas. As portas brilhavam com o sol. Mas Daniel não olhava para o palácio. Ele não conseguia parar de olhar para o templo que estava mais adiante. Para ter acesso, tinha que subir cada vez mais, passando de uma plataforma para outra. As escadas em zigue-zague  pareciam subir até o céu. Era o templo idólatro do deus da Babilônia, Bel.

Daniel se virou para seus  amigos:

“Eu vou aprender a língua da Babilônia e estudar os seus livros”, disse ele. “Eu servirei fielmente seu rei. É certo que ele fez com que deixássemos nossas casas e nosso país, mas agora será bom para a gente. Entretanto, há uma coisa que eu nunca farei: eu nunca deixarei a religião de nossos pais.”

“Nós também não”, prometeram os três amigos.

Neste mesmo dia eles fizeram prova disso. Os jovens foram levados até seus apartamentos perto do palácio. Logo depois  entraram empregados, cheios de pratos cobertos de carne  com  um  cheiro delicioso: carne assada, gansos e patos recheados. Outros empregados trouxeram confeitarias, todos os tipos de doces, e cântaros de vinho. As taças foram cheias, os pratos continham todas essas coisas boas e os jovens esfomeados comeram com prazer – todos, menos Daniel e seus amigos. Os quatro pratos deles ficaram intactos, e seus copos continuaram cheios.

O oficial do rei, que s tornou amigo de Daniel,  se virou para eles e disse:

-“Coma, meu filho”, disse ele, “ essa carne e esse vinho vieram da mesa do próprio rei!”

-“Meu senhor”, respondeu Daniel, “a carne não foi preparada segundo nossos ritos. Eu peço que me perdoe, mas eu não posso comer, não é kosher.”

Mas o oficial balançou a cabeça;

- “O rei deixou vocês aos meus cuidados. Se ele perceber que vocês não estão sendo tão bem acolhidos quanto os outros meninos de sua idade, ele me responsabilizará por isso.”

- “Eu peço que você me dê dez dias para eu provar”, suplicou Daniel. “Dai-nos somente legumes e água. Depois, você poderá comparar  nossa aparência com a dos outros meninos que comem a carne do rei. Teus próprios olhos verão, e você agirá em conseqüência.”

O oficial aceitou. No final dos dez dias, ele percebeu que Daniel e seus amigos tinham uma aparência melhor que a de todos os outros. Ele continuou então servindo somente legumes e água.

Os jovens passaram três anos na escola real. Eles aprenderam a ler e a escrever a língua da Babilônia. Eles estudaram as estrelas e o sentido dos sonhos. Eles começaram a aprender os segredos dos sábios que estavam escritos em tábuas de argila.

No final desses três anos, a guarda do palácio os levou até  rei. Nabucodonosor os interrogou, um depois do outro. Nenhum podia ser comparado tanto em sabedoria quanto em conhecimento a Daniel e aos seus três amigos.

Foi assim que esses quatro jovens foram convidados a ficar no palácio junto com os sábios do rei.

A pedra que se tornou uma montanha.

Numa manhã, Nabucodonosor despertou profundamente perturbado.

Ele disse para os Sábios: “Eu tive um sonho que certamente não me deixará tranqüilo.”

“Que o rei viva para sempre!” Responderam os sábios. “Conte-nos o seu sonho que nós te explicaremos o sentido.”

“Bem, eu não me lembro desse sonho. São vocês que devem me lembrar com o que eu sonhei e me dar a explicação.”

“O rei está pedindo uma coisa impossível”, protestaram os sábios. “Ninguém na terra, seja ele padre ou mágico, pode revelar ao homem seu próprio sonho. Nenhum rei, por mais poderoso que seja, nunca exigiu nada parecido.”

Com essas palavras, o rei ficou tão iritado que mandou chamar o capitão da guarda e mandou que matassem todos os sábios de seu reinado.

O primeiro sábio que o capitão encontrou, ao deixar o rei, foi Daniel.

“Eu tenho que mandar te matar”, disse ele, “ é ordem do rei”.

“Porque você tem tanta pressa?” Replicou Daniel. “Diga-me antes: porque o rei te deu uma ordem tão cruel?”

O capitão contou para ele o que tinha acontecido.

“Antes de exterminar todos os sábios da Babilônia, disse Daniel, “leve-me até o rei. Pode ser que eu seja capaz de contar para ele seu sonho.”

O capitão aceitou. Nesta noite, Daniel suplicou para que D´us o ajudasse e, de manhã ele foi levado até o rei.”

O rei perguntou para ele: Você é capaz de me contar o sonho que eu tive?”

“Nenhum homem na terra seria capaz”, respondeu Daniel. “Mas tem um D´us no céu que conhece tudo. Na noite passada, ele me contou seu sonho, e me explicou o sentido. Ó rei, este é o sonho que você teve: Você estava deitado sobre sua cama, se perguntando o que aconteceria nos próximos dias. De repente uma estátua apareceu na sua frente. Ela era enorme e extraordinariamente brilhante; a cabeça era de ouro, o peito e os braços eram de prata, a barriga de bronze, as pernas de ferro e os pés tinham uma parte de ferro e  outra de argila. Você estava olhando esta estátua quando, de repente, uma pedra se desprendeu da montanha, mas nenhuma mão tinha feito isso. Ela bateu nos pés de argila da estátua. A argila, o ferro, o bronze e o ouro se partiram em pedaços que o vento levou. Mas a pedra se tornou uma montanha que encheu toda a terra.”

“Este foi realmente o meu sonho!”  Exclamou o rei. “Agora, explique-o para mim.”

“Ó rei”. Disse Daniel. “Você é a cabeça de ouro. O D´us dos céus te deu a realeza e o poder. Depois de você será erguido um outro reinado, menor que o seu. Depois um terceiro, um quarto e um quinto, cada vez menores. Finalmente, o D´us do céu suscitará um reinado justo que durará para sempre. Este reinado justo, é a pedra que se tornou uma montanha e encheu toda a terra.”

Então o rei exclamou: “Realmente, vosso D´us é o D´us dos deuses, é Ele quem revela os segredos.” E ele fez com que Daniel fosse o primeiro de todos os sábios da Babilônia.

Alguns anos se passaram. Nabucodonosor mandou fundir uma estátua de ouro colossal que foi erguida no vale de Bavel. Ele enviou emissários aos governadores e oficiais de todas as províncias da Babilônia e mandou que eles assistissem à inauguração.

Na abertura da cerimônia, um edito do rei decretou:

“A seguinte ordem é dirigida a vocês, nações, povos e idiomas: no momento que vocês ouvirem o som da trombeta e de qualquer tipo de instrumento musical, vocês prosternarão e adorarão a estátua de ouro que o imperador Nabucodonosor ergueu. Qualquer um que se abster de prosternar para adora-la será, na mesma hora jogado na fornalha ardente”.

Todos se prosternaram como o imperador tinha mandado, com exceção de Hanania, Michael e Azaria (Daniel não estava presente). Eles sabiam que seriam pegos e executados mas eles desprezaram a ordem imperial. Como é que eles tiveram coragem de sacrificar sua vida por Hachem?

Esta é a resposta: tendo se privado de comida não kosher, eles tinham em sua alma um alto nível de Keducha (santidade). Conseqüentemente, eles eram capazes de grandes coisas e desafios.

A desobediência à ordem do imperador foi logo anunciada; terrivelmente furioso, ele ameaçou: ”Se vocês não se prosternarem imediatamente diante da estátua, eu mandarei jogar vocês vivos na fornalha ardente.”

Eles responderam: “O D´us que nós adoramos pode nos salvar da fornalha ardente e das suas mãos também. Mas fique sabendo que mesmo que Ele não nos libertar, nós não prosternaremos ante a estátua.”

Muito furioso ao ouvir a recusa, Nabucodonosor mandou que esquentassem a fornalha sete vezes mais do que o necessário. Amarraram os três jovens que foram jogados nas chamas. Um milagre aconteceu e o fogo nem os tocou nem chamuscou suas roupas. Nabucodonosor mandou soltá-los e reconheceu publicamente a grandeza de D´us Todo Poderoso. Ele promoveu os jovens às mais altas funções na corte.

Nabucodonosor recebe uma lição.

Nabucodonosor se tornava cada vez mais poderoso mas também cada vez mais orgulhoso. Ele teve outro sonho estranho, mas, dessa vez, ele se lembrava e contou para Daniel.

“Eu estava deitado sobre minha cama, disse ele, quando, abrindo os olhos, eu vi uma árvore no meio da terra. A árvore cresceu tanto e se tornou tão vigorosa que tocava os céus. Sua folhagem era bonita e seus frutos abundantes. Todo mundo se alimentava. Os bichos do campo se abrigavam na sua sombra. Os pássaros do céu faziam seus ninhos em seus galhos. Enquanto eu continuava olhando, eu ouvi uma voz que vinha do céu:”

“Abatem a árvore e cortem seus galhos,

Balancem suas folhas e dispersem seus frutos,

Que os bichos deixem sua sombra

E os pássaros os seus galhos,

Todavia, o toco de sua raiz

Ficará na terra

Até que sete anos tenham passado.”

“Este foi o meu sonho, queira explicá-lo para mim?”

Daniel se calou, completamente perturbado.

“Não tenha medo de falar”, disse o rei. “Qualquer que seja o sentido desse sonho, eu tenho que saber a verdade.”

Daniel respondeu então: “Meu rei, a árvore que você viu, que era tão vigorosa e se estendia pela terra, fornecendo sombra e comida para os homens e para os bichos – esta árvore, é você mesmo. Mas, o Eterno Todo Poderoso decretou uma sentença contra você. Você terá que deixar os homens e morar com os bichos nos campos e, como os bois, você comerá capim e você se molhará com o orvalho do céu durante sete anos. Entretanto, a sentença não é completamente ruim. O toco da árvore continua na terra. É sinal de que seu reinado continuará e que ele será devolvido para você quando você souber que existe um D´us no céu, um D´us que domina todos os reis da terra e distribui os reinados segundo Seu desejo.”

E Daniel pediu ao rei: “Seja caridoso com os pobres. Mostre sua bondade e misericórdia. Pode ser que assim a sentença seja afastada.”

Mas o rei não escutou Daniel.

Doze meses se passaram. Um dia, o rei estava passeando no terraço de seu palácio. A grande cidade da Babilônia se estendia aos seus pés, com suas ruas tão animadas, seus mercados barulhentos, seus canais com seus barcos e pontes, seus palácios tão brilhantes quanto o sol, as torres de seus templos, as sete espessas muralhas que cercavam a cidade, suas cem portas. O orgulho encheu o coração do rei, e ele falou para si mesmo: “Não é esta a grande cidade da Babilônia que eu mandei construir graças ao meu poder todo?”

De repente, uma voz o chamou do céu: Ó rei Nabucodonosor, a sentença será cumprida. Seu reino será retirado de você.”

O rei ficou louco. Ele foi retirado de perto dos homens, começou a comer grama como um boi e foi molhado pelo orvalho do céu. Seus cabelos cresceram como as penas de uma águia e suas unhas como as garras dos pássaros.

Sete anos se passaram assim. A loucura que tinha atacado o rei o deixou, subitamente. Ele foi levado para a cidade e seu reinado foi devolvido para ele.

Foi assim que o poderoso rei da Babilônia soube que Daniel tinha dito a verdade. Existia um grande D´us que governa todos os reinados dos homens, e foi ele quem deu o reinado ao rei Nabucodonosor.

A partir de então, o rei nunca mais mostrou seu orgulho, e ele se esforçou para governar seu povo com justiça e bondade.

O escrito na parede

Os vasos de ouro e de prata que Nabucodonosor tinha roubado do Templo de Jerusalém estavam depositados no tesouro real. Mas o rei nunca  os utilizava, pois ele temia o Eterno.

Mas quando o rei Nabucodonosor morreu, foi seu filho Baltasar que lhe sucedeu. Baltasar não sabia, como seu pai, que era somente D´us o responsável por seu poder. Ele era orgulhoso, vaidoso e insolente. Uma noite, ele ofereceu uma grande festa para as pessoas importantes de seu reinado. Ele tinha convidado mil pessoas. Embriagado com todo o vinho que ele tinha bebido, ele mandou que seus empregados trouxessem os vasos sagrados do Santo Templo e ele mesmo e seus príncipes beberam neles. Ao beber, o rei e seus senhores celebravam a glória de seus deuses de ouro, de prata, de madeira e de pedra.

De repente, uma mão apareceu e começou a escrever na parede. Baltasar percebeu e ficou completamente pálido. Sua taça caiu de suas mãos, e ele tremia tanto que seus joelhos se chocavam.

“Chamem os sábios e os mágicos!” Ele gritou.

Quando todos chegaram, o rei disse:

Aquele que conseguir ler este escrito e explicá-lo para mim, será vestido com roupas da realeza. Ele usará um cordão de ouro no pescoço e ocupará o terceiro lugar no governo do reinado.”

Mas nenhum dos sábios conseguiu decifrar o misterioso escrito.

O terror do rei aumentava, e os senhores estavam perturbados e perplexos quando a rainha mãe entrou na sala do banquete.

“Ó rei, que você viva para sempre, disse ela, não fique tão consternado. Tem um homem no seu reino, chamado Daniel, que sabe muito sobre D´us. Mande procurá-lo.”

Foram então buscar Daniel, e o rei Baltasar lhe disse:

Eu ouvi dizer que você é capaz, melhor que todo mundo, de revelar os segredos. Leia este escrito na parede e dê-me a explicação. Se você conseguir, você receberá roupas da realeza, você usará um cordão de ouro, e ocupará o terceiro lugar no governo do reinado.”

“Guarde teus presentes e dê tuas recompensas para outra pessoa”. Respondeu Daniel. “Entretanto eu lerei este escrito e te darei a interpretação. O escrito vem do Eterno. Você  zombou Dele quando usou, na sua embriaguez, os vasos do Santo Templo. Escute rei, o que disse o eterno:

“Mené” – D´us contou os anos de teu reinado e Ele colocou um fim.

“Tekel” -  Você foi pesado numa balança, e foi considerado muito leve.

“Oufarsin” – Teu reinado será dividido, e será dado aos Medes e aos Persas.

Nesta mesma noite, Baltasar foi assassinado em seu palácio. Na manhã seguinte, um exército Persa entrou na cidade da Babilônia. O conquistador de Juda tinha sido conquistado

Um rei persa reinava agora na Babilônia. Ele tinha nomeado, para ajudar na sua função, cento e vinte príncipes, dirigidos por três ministros. Daniel era um desses três ministros.

Os príncipes e os outros ministros tinham inveja de Daniel por causa de sua grande sabedoria e de suas numerosas qualidades. Eles temiam que o rei o nomeasse acima de todos eles. Eles o espionavam sem parar, esperando encontrar um motivo para acusá-lo diante do rei. Mas Daniel era fiel e leal, e eles não conseguiram encontrar um defeito.

Então os príncipes disseram: “Nós não encontraremos nenhum motivo para acusar Daniel, a não ser no que diz respeito à sua religião.”

No alto do palácio, Daniel tinha um quarto cujas janelas se abriam na direção de Jerusalém.Três vezes por dia, Daniel rezava para o Eterno na frente da janela. Disso, os príncipes sabiam.

Eles foram procurar o rei e disseram: “Ó rei, que você viva para sempre! Nós, príncipes e ministros, queremos pedir que todos os teus subordinados provem sua lealdade. Foi por isso que elaboramos uma nova lei que pediremos que você assine.”

Eles leram então essa lei, escrita num rolo:

“Está proibido, durante trinta dias, rezar para qualquer um, seja D´us ou homem, exceto o rei. Aquele que não obedecer essa lei será jogado na fossa dos  leões”.

Eles estenderam o rolo para o rei que o assinou e aplicou seu selo.

Daniel ficou sabendo do decreto que acabava de ser redigido. Ele sabia que se rezasse por D´us estaria se expondo a um grande perigo. Mesmo assim, ele continuava rezando, como ele sempre fazia. Era justamente o que tinham imaginado os príncipes.

Eles foram até o rei para dizer: “Ó rei, Daniel, este cativo trazido de Juda, não respeita você nem as suas leis. Ele continua rezando por D´us, três vezes por dia, apesar de tua interdição formal. Ele deve ser jogado na fossa dos leões.”

O rei percebeu que os príncipes tinham feito um complô contra Daniel, e ele ficou profundamente atormentado. Durante o dia inteiro ele tentou encontrar um meio para salva-lo.

No pôr do sol, os príncipes se apresentaram novamente e disseram: “Ó rei, o que você está esperando? Você assinou o decreto, e segundo a lei dos Medes e dos Persas, um decreto assinado pelo rei é irrevogável. O próprio rei não pode mudar nada.”

Tristemente, o rei deu a ordem para levar Daniel até a fossa dos leões. Ele mesmo foi até a entrada da fossa. Ouvia-se no interior o rugido das feras esfomeadas.

“Que teu D´us te salve, Ele, a quem você serve com tanta fidelidade”, exclamou o rei enquanto jogavam Daniel na fossa. Colocaram uma grande pedra na entrada, o rei colocou seu selo real e os príncipes fizeram o mesmo.

Durante toda a noite o rei não conseguiu dormir. Logo que o dia nasceu ele foi com muita pressa até a fossa dos leões.

“Daniel! Gritou o rei, o D´us que você serve com tanta fidelidade pôde te salvar dos leões?”

Sua voz estava cheia de tristeza, pois ele não obteve resposta. Mas depois ele ouviu a voz de Daniel: “Ó rei, que você viva para sempre! Meu D´us enviou seus anjos para fechar a boca dos leões. Eles não fizeram nada pois sou inocente.”

Muito feliz, o rei mandou buscar os príncipes. Os selos foram rompidos e Daniel foi retirado da fossa. Ele não tinha nenhum ferimento.

Sob ordem do rei, aqueles que o tinham acusado injustamente foram, por sua vez, jogados na fossa. Mas desta vez, a boca dos leões não ficou fechada.

Daniel continuou a servir o rei dos Persas, por todo o resto de sua vida, sendo respeitado e honrado por todos.

UMA HISTORIA QUE NOS REMETE AO DANIEL, O domador de leão

Uma importante reunião aconteceu na casa do líder da comunidade em Jerusalém. Os membros proeminentes da sociedade, os rabinos,  e os líderes da Yeshiva estavam todos reunidos para discutir a situação financeira em Jerusalém. Era um ano de fome:  não tinha chovido, mesmo que  suprimentos de comida fossem muito caros, fundos foram usados para isso, e as pessoas tinham apenas um último pedaço de pão.

A maioria dos judeus que moravam em Jerusalém ocupados com o estudo da Tora foram sustentados por generosos judeus de outros países que desejavam  participar da grande Mitzva do estudo da Tora. Mas agora, o dinheiro tinha sido gasto e os judeus de Jerusalém sofriam com a pobreza.

Os líderes judeus finalmente decidiram enviar o santo, Reb Abraão Galanti para a cidade de Istambul a fim de coletar dinheiro dos judeus ricos que moravam lá.

O Reb Abraão não estava contente em se empenhar nessa difícil missão que o forçaria a interromper seus estudos da Tora, mas, sabendo o quanto essa ajuda era importante e urgente, ele concordou em fazer a viagem para socorrer os cidadãos de Jerusalém.

O Reb Abraão Galanti fez sua malas e foi para o porto de Jaffa, onde ele embarcaria num navio para Istambul. Ele pagou sua viagem ao capitão que lhe deu um lugar no navio.

O navio viajou por muitas semanas antes de chegar no porto de Istambul. Depois de semanas viajando no meio de tempestades no mar, os passageiros ficaram felizes quando viram que o porto estava próximo e eles poderiam finalmente desembarcar.

O navio chegou ao porto, e o capitão estava preparando para atracar quando ele percebeu algo estranho. Na costa havia um grande tumulto. Pessoas corriam de um alado para outro, urrando de medo, algumas subiam nos telhados das casas, e soldados armados os perseguiam.

O capitão ficou apavorado – o que está havendo? Alguma coisa terrível deve ter acontecido!  Ele decidiu não atracar o navio, com medo de colocar seus passageiros em perigo, e mandou que os marinheiros conduzissem o navio de volta para o mar.

Quando o Reb Abraão Galanti percebeu que o capitão não atracaria o navio, ele se dirigiu até ele e disse:

“Capitão! Eu te paguei para que me trouxesse para Istambul e eu gostaria de sair daqui.”

O capitão levantou sua voz e disse: “Você não está vendo que a cidade está num estado de grande confusão e medo? Os passageiros correm perigo e eu sou o responsável por eles!

Se você ao quer parar aqui, deixe me sair, eu não tenho medo”, disse o Reb Abraão.

Os passageiros zombaram dele e o capitão tentou convence-lo de perigo de atracar, mas o Reb Abraão não quis mudar de idéia. O capitão não tinha escolha a  não ser mandar o Reb Abraão para a costa num pequeno barco que voltaria imediatamente para o navio. O navio depois, iria para o mar. Quando o Reb Abraão pisou em terra, muitos soldados se aproximaram dele e disseram:

Por que você veio para cá? Você não sabe que dois perigosos leões escaparam do zoológico do sultão e a vida de todos está em perigo?  Suba depressa no telhado dessa casa e se esconda!” Ordenaram eles.

O Reb Abraão, entretanto, não prestou atenção em suas palavras e não fez o que eles mandaram.

Os soldados não tinham acabado de falar com ele, quando de repente um dos leões veio correndo pela rua. Os soldados correram para salvar suas vidas e subiram no telhado da casa mais próxima, mas o Reb Abraão continuou onde estava, olhando fixamente sem medo do leão.

As pessoas  que se posicionavam no alto dos telhados começaram a gritar para ele se salvar e se esconder, mas o Reb Abraão, não se mexeu. E depois, quando o leão se aproximou do Reb Abraão, ele deitou no chão e começou  a lamber suas patas como um cachorro obediente. O Reb Abraão segurou firmemente a orelha do leão e começou a andar em direção ao zoológico do sultão.

No caminho ele encontrou o outro leão que estava tentando entrar numa casa fechada. Pegando ele pela orelha, o Reb  Abraão levou os dois leões para o zoológico enquanto todo mundo via  espantado pelas janelas ou de cima dos telhados. Do palácio, o Sultão e seus oficiais observavam a cena do judeu levando os dois leões por suas orelhas como se eles fossem cachorrinhos obedientes. O Sultão apontou para o Reb Abraão a jaula dos leões, e o Reb Abraão teve a certeza que eles entraram e estavam trancados atrás  das grades de ferro.

Agora, depois que o perigo tinha passado, os habitantes da cidade saíram de seus esconderijos e rodearam o Reb Abraão. Com grande honra, eles o levaram para a corte do Sultão que desejava conhecê-lo, e a cidade inteira ficou muito contente.

O Sultão recebeu o Reb Abraão com muito respeito. Todos os oficiais se levantaram em sua honra e  ele recebeu uma cadeira de honra para sentar-se ao lado do Sultão.

“Conte-me quem você é e o quê você faz”, disse o Sultão.

O Reb Abraão disse para o Sultão e para todos que estavam reunidos a sua volta de onde ele veio. Ele descreveu a difícil situação da fome que atingia os  Judeus em Jerusalém, e como ele foi enviado para Istambul para arrecadar dinheiro dos judeus ricos, a fim de sustentar os pobres em Jerusalém.

“Você é certamente um santo e grande homem”, disse o Sultão.

“Não”, disse o Reb Abraão, “eu sou um simples judeu e eu não tenho nada de especial.”

“Como assim?” Disse o Sultão com espanto.

“Então, como você teve a coragem de enfrentar esses perigosos leões que todo mundo temia e conseguiu leva-los até a jaula como se eles fossem nada mais do que inofensivos carneiros? Você é um mágico, ou você é tão poderoso quanto Sansão?”

“Não, sua majestade”, disse o Reb Abraão. “Eu não tenho poderes, você não vê, eu sou apenas um homem velho e eu não pratico mágica, o que é proibido para um judeu. Entretanto, nossos Sábios dizem: Quem é forte? Aquele que vence sua má inclinação (seus impulsos). Eu tentei durante toda minha vida vencer minha má inclinação e fazer a vontade de D´us. Eu não temo nenhum homem,  somente D´us. Quando D´us criou o mundo, continuou o Reb Abraão, ele fez com que os homens temessem todos os animais. Quando o homem fez a vontade de D´us, os animais o temeram e não fizeram mal a ele, exatamente como nos conta a história de Daniel que ficou são e salvo na fossa dos leões. Mas, quando as pessoas não se comportam como devem, (isto é seguindo Tora e Misvot com amor e temor por D’us), e se deixam levar pela sua má inclinação e pelos seus impulsos, elas perdem a imagem de D´us e então os animais não as temem fazem o mal a elas e tem superioridade sobre o homem.”

O Sultão ficou muito emocionado com as palavras do Reb Abraão. Ele entendeu que ele estava diante de um grande e santo homem, e imediatamente ordenou que seus tesoureiros dessem ao Reb Abraão uma caixa cheia de ouro e prata para os pobres de Jerusalém. Ele não queria que um homem santo como o Reb Abraão se cansasse indo coletar doações.

O Reb Abraão saiu com muita honra. O Sultão lamentou ter que se separar de um homem santo e sábio, mas ele sabia que as pessoas em Jerusalém morriam de fome e estavam esperando o Reb Abraão voltar. O Sultão conseguiu um lugar de honra para o Reb Abraão num navio que estava partindo para Israel. O Reb Abraão seguiu seu caminho acompanhado pelo Sultão e por aqueles que o rodeavam, agradecendo-o sem parar por sua heróica ação. O Reb Abraão chegou em casa trazendo socorro financeiro para os cidadãos de Jerusalém.

O QUE DIZ O ZOHAR (NA KABALA) SOBRE O DANIEL

O Zohar revela que os leões não fizeram mal nenhum a Daniel por causa da grande Keducha (elevação espiritual e santidade) que emanava de seu ser. Estas forças espiritual e material eram o resultado de sua recusa em consumir qualquer alimento não-kosher.

Esta narração de Daniel mostra a grandeza espiritual e a Keducha (santidade e elevação espiritual) que adquire aquele que se abstém de alimentos não kosher. Ao contrário, aquele que consome alimentos proibidos dá forças aos seus maus impulsos e obtura sua alma e sua inteligência. Sua natureza acaba tendo as características similares às dos alimentos impuros que ele come. Ele se torna grosseiro e tem menos aptidão para estudar a Tora, para rezar e fazer as Mitzvot (servir Hachem). A gente é o que a gente come. Uma das razões que explicam a grande clareza de espírito e a profunda inteligência das gerações interiores é a devoção total (Messirut Nefech) que eles demonstravam por não tocar em nenhum alimento proibido pela Tora.

Echel Abraão, que faz essa advertência em nome de R. Moché Cordovero, conclui: “este é o maior motivo da falta de compreensão dos estudos da Tora de nossa geração.”

Na verdade, a situação da Cacherut (Leis dos alimentos Kosher) ocasiona muitas confusões, pois uma grande quantidade de produtos trazem um selo “kosher”  e muitos restaurantes, hotéis, pizzarias, açougues e caterins afirmam serem “kosher” ou até mesmo “glatt kosher”. Mas, investigações revelam que eles usam métodos ou ingredientes duvidosos, ou que os alimentos podem ter sido elaborados em locais que serviram também para as gorduras proibidas, etc... A pretensão da cacherut não saberia ser ela própria  uma garantia suficiente se não tivermos a certeza de que o Rav ou o supervisor (machgiah) que certifica o produto é um homem que teme D´us.

Nossa geração se preocupa com o equilíbrio dos alimentos e sabe quais os alimentos e quais vitaminas são necessários para nossa saúde. Mas, o que nos resta é educar uma geração que se preocupa com a cacherut e saber que introduzir sem discriminação todos os “produtos Kosher” (produtos que pretendem ser “kosher”) em sua casa, ou indo comer em qualquer lugar que se diz “kosher”, pode causar um prejuízo irreparável à sua alma.

Templo de Jerusalém

O Beit Hamicdash (Templo Sagrado)

O Midrash relata que a “Even Hashessiya” - uma enorme rocha situada no centro do lugar do Templo, é a própria pedra angular do universo, a fundação sobre a qual o mundo está construído.

O lugar onde o Rei Salomão construiu o altar do Beit Hamicdash foi o mesmo lugar em que Avraham construiu um altar e atou o seu filho Isaac, onde Noach construiu um altar quando deixou a arca, onde Caim e Abel trouxeram suas oferendas, e onde Adão trouxe seu sacrifício depois de ter sido criado. Ali também ocorreu a criação de Adam.

Os engenheiros modernos não conseguem explicar como as enormes pedras do Templo - algumas pesando até 400 toneladas - foram extraídas, transportadas e carregadas até o lugar. Nossos sábios dizem que os anjos de ofício assistiram na construção, e que as pedras conduziram-se para cima.

No Codesh Hacodashim (lugar mais santo) do Templo, sobre a Arca do Pacto, estavam os querubins alados, duas figuras angelicais de ouro. Diz-se que quando o povo judeu vivia em harmonia e obedecia à vontade do Todo-Poderoso, os querubins olhavam um para o outro e quando os judeus não obedeciam, seus rostos ficavam virados.

Dentro da Arca estavam as Tábuas originais nas quais estão inscritos os Dez Mandamentos. O Santo dos Santos, no qual estava colocada a Arca, tinha 20 cúbitos de largura. Mas quando a distância era medida entre a Arca e os muros que a circundavam, havia 10 cúbitos de cada lado. A Arca era um objeto físico e apesar disso não ocupava espaço físico - porque se situava entre os mundos material e espiritual.

Os sacrifícios trazidos para o altar do Templo eram consumidos por um fogo divino que descia do céu com a forma de um leão, e apesar disso a lenha queimava continuamente no altar.

Entre os milagres associados com o templo estava o fato que, apesar de que centenas de milhares de peregrinos visitavam Jerusalém nas Festas, não faltava nunca lugar para ficar.

A Menorá - o candelabro de sete braços do Templo - era moldado com muitas decorações intricadas e desenhos, a partir de um único bloco de ouro. Moisés teve dificuldade para entender e explicar como seria feito. O Todo-Poderoso lhe disse então para atirar o lingote de ouro no fogo - e a Menorá emergiu por si mesma, totalmente formada.

Quando os sacerdotes, os “Cohanim”, viram o Beit Hamicdash em chamas na época da destruição, subiram para o telhado com as chaves do Templo, gritando: “Senhor do Universo! Não temos sido guardas leais. Faça com que estas chaves voltem ao proprietário legítimo!” Eles atiraram a chave para cima e uma mão se estendeu desde o céu recuperando as chaves.

Embora o Templo está destruído, um muro permaneceu intacto através dos séculos - o Muro Ocidental. Todos os judeus através do mundo rezam três vezes ao dia em direção ao local do Templo, o portão através do qual todas nossas preces são ouvidas e respondidas. Como nossos sábios nos dizem, “A Presença Divina nunca se afasta do Muro Ocidental”.

Templo de Jerusalém II

Templo Sagrado de Jerusalém

(Beit HaMikdash)

Primeiro e Segundo Templo de Jerusalém. O Rei Salomão começou a construir o primeiro Beth Hamikdash em 2928, que foi concluído sete anos depois. O Rei David comprou o lugar do Arvenah o Jebusite, e desde então, este local se tornou para sempre sagrado (Kadosh*), o lugar da Presença Divina e de peregrinação três vezes no ano. O Primeiro Templo durou 410 anos e foi destruído no dia 9 do mês de  Av  de 3338 por Nabucodonosor da Babilônia.

Em 3408, os judeus exilados que voltaram da Babilônia construíram o Segundo Templo que foi destruído em 3828 pelo Imperador Romano Titus.


O templo permitiu o  cumprimento do Preceito Divino: “Eles farão para Mim um Santuário e Eu residirei entre eles”. Esse Santuário Divino construído no meio da matéria do mundo é a finalidade da criação e isto destaca a centralidade do Templo. Muito mais, o exílio não tem outro objetivo a não ser o de elevar a matéria do mundo e, quando esta elevação for realizada, o Terceiro Templo será reconstruído, com ainda mais esplendor que os precedentes.

A definição do Templo é dada pelo Rambam*. Ele é “uma casa pronta onde serão oferecidos sacrifícios”. Os sacrifícios ilustram na verdade o que deve ser esse Santuário, construído com todos os reinos* da criação, minerais (sais), vegetais (óleo, farinha), animais (bois, bodes) e humanos (Cohen, Levi, Israel). É por este motivo que o Templo iluminava o mundo, sendo, segundo a expressão dos Sábios, “uma casa da qual emanava a claridade para o mundo inteiro”.

Seu serviço sagrado foi interrompido quando os Gregos introduziram a impureza. Na verdade, o Templo e a impureza são compatíveis. No mundo futuro, em compensação, ele será reconstruído quando se realizar a promessa “Eu (D’us)  tirarei o espírito de impureza da terra”. Uma controvérsia opõe os Sábios para saber se o terceiro Templo será construído pelos homens, como a Lei (Halacha) obriga, ou por D’us, como se diz, “um Santuário eterno, que Tuas mãos construíram”. A Chassidu*t explica que as duas opiniões são verdadeiras. O Templo descerá já construído do céu, mas os homens fixarão as portas.

O Rabi* introduziu a prática de estudar as Leis do Templo durante as três semanas que separam o dia 17 Tamuz do dia 9 Av , mas particularmente durante os nove primeiros dias de Av. Na verdade, o estudo dessas Leis permite que seja considerado como se estivéssemos construindo o Templo e esse período deve, na hora da libertação (guéula), ser transformado em alegria e felicidade. Tal estudo é o meio de prefigurar a realização desta promessa.

O PROFETA ELIAHU Hanavi
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